O que significa a circuncisão do coração no Velho e no Novo Testamento?
Você Pergunta: Presbítero, Estava lendo a carta de Paulo aos Romanos, capítulo 2, versículo 29, e fiquei curioso com uma expressão que ele usa: “circuncisão do coração”. Eu até entendo o que era a circuncisão no Antigo Testamento, mas não consegui captar bem o sentido disso aqui. O que Paulo quis dizer com essa frase e qual é a aplicação dela para nós de forma prática?
Muita gente pensa que o apóstolo Paulo inventou a expressão “circuncisão do coração” quando escreveu aos Romanos, já que a mais conhecida circuncisão é aquela feita na carne, como um sinal da aliança de Deus com o seu povo.
No entanto, Paulo não criou essa frase. Ele a retirou do próprio Antigo Testamento, onde já havia sido usada de forma muito profunda. Um exemplo disso está no profeta Jeremias:
“Circuncidai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso coração, ó homens de Judá e moradores de Jerusalém, para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras.” (Jeremias 4:4)
A ideia de uma circuncisão que não é feita com mãos humanas, mas que envolve o interior do ser humano, já estava presente entre os profetas. E não somente neles: nos livros da Lei também encontramos essa mesma verdade. Moisés, por exemplo, declara:
“O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30:6).
Portanto, esse conceito era bem conhecido dos judeus. O que Paulo faz em Romanos é trazer uma aplicação poderosa e prática desse ensino antigo à nova realidade do evangelho de Cristo — e compreender isso é essencial para entendermos o que ele quer dizer.
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A circuncisão na antiga aliança: um sinal visível de pertencimento
Para compreendermos o sentido da “circuncisão do coração”, precisamos primeiro lembrar o que era a circuncisão (sinal na carne) no Antigo Testamento.
Ela era um sinal físico e visível, ordenado por Deus, que consistia em um corte no prepúcio do órgão genital masculino (o que hoje chamamos de cirurgia de fimose).
Esse sinal servia para identificar quem pertencia ao povo de Deus, quem estava debaixo da Sua aliança.
O procedimento era realizado no oitavo dia de vida dos meninos nascidos em lares israelitas: “Com a idade de oito dias será circuncidado todo macho entre vós, nas vossas gerações” (Gênesis 17:12)
E também era feito em adultos (mesmo de outros povos) que passavam a crer no Deus de Israel e queriam fazer parte do Seu povo. Essa prática começou por ordem de Deus nos dias de Abraão e permaneceu até o tempo de Jesus.
Contudo, após a morte e ressurreição de Cristo, algo mudou: o sinal exterior da aliança não seria mais o corte na carne, mas sim o batismo. Paulo explica isso claramente:
“Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo” (Colossenses 2:11-12).
Mas havia um problema desde o início: o sinal na carne bastava para que as pessoas agradassem a Deus? Não, não bastava!
Por que Deus quis a circuncisão do coração?
Durante séculos, a circuncisão (na carne) foi um sinal fundamental da aliança entre Deus e Israel. Quando Jesus veio e trouxe uma nova realidade espiritual, isso causou muita confusão — especialmente entre os judeus que viam a circuncisão como essencial para a salvação.
Paulo, então, usa o termo “circuncisão do coração” para explicar de forma didática essa mudança. Agora, a verdadeira marca de pertencimento ao povo de Deus não é mais física, mas espiritual.
Não se trata de cortar a carne, mas de ter o coração transformado por Deus. E essa verdade não era restrita aos judeus. O evangelho se destinava também aos gentios — pessoas de todos os povos — que seriam agora incluídas na família da fé.
A mensagem é clara: não é um sinal exterior que define o povo de Deus, mas uma realidade interior. O corte no corpo não é mais importante do que a entrega do coração.
No passado isso já era uma realidade! Deus queria corações transformados e não apenas um monte de pessoas marcadas na carne, mas com corações malignos!
Sinais no coração: a mudança que Deus quer ver em nós
A expressão “circuncisão do coração” é uma poderosa figura de linguagem usada por Paulo para mostrar que sinais exteriores, por si só, não significam nada se não houver transformação interior.
Que valor teria a circuncisão física se o coração da pessoa fosse mau e desobediente a Deus? Paulo mesmo declara:
“Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão” (Romanos 2:25).
Ou seja, a marca externa não tem poder em si mesma de santificar a pessoa. Ela só tem valor se estiver acompanhada de um coração obediente e fiel ao Senhor.
Isso continua sendo verdade hoje. Podemos ter aparência de piedade, frequentar a igreja e até realizar práticas religiosas, mas, se o coração não estiver transformado, tudo isso se torna vazio. O que Deus procura não é aparência, mas essência. Ele quer que o nosso coração seja marcado pela Sua presença.
A circuncisão interior: sinal de um novo pertencimento
A conclusão de Paulo em Romanos 2:29 resume perfeitamente o que significa a circuncisão do coração:
“Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Romanos 2:29).
Essa circuncisão interior é a obra do Espírito Santo em nós. Ele corta aquilo que não agrada a Deus — o pecado, o orgulho, a rebeldia — e nos torna sensíveis à Sua vontade. Essa transformação se manifesta em atitudes concretas, em um estilo de vida que reflete a presença de Deus em nosso interior.
Em outras palavras, a circuncisão do coração é o verdadeiro sinal de que pertencemos ao Senhor. Não é algo que os olhos veem, mas que as pessoas percebem quando convivem conosco. É o caráter de Cristo sendo formado em nós e se tornando evidente através de nossas ações.
Assim, a circuncisão do coração nos lembra que Deus sempre buscou algo além de rituais e sinais externos. Desde os tempos antigos, Ele deseja um povo cujo coração seja d’Ele por inteiro.
Paulo apenas reforça essa verdade eterna ao ensinar que o verdadeiro povo de Deus é aquele que tem seu interior transformado pelo Espírito Santo.
Portanto, a pergunta que precisamos fazer não é se carregamos um sinal visível de fé, mas se o nosso coração foi realmente transformado. Afinal, é essa mudança interior que revela quem somos e a quem pertencemos.
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