Barnabé era um apóstolo de Cristo, segundo Atos 14:14?
Você Pergunta: Presbítero, vi seu estudo sobre os critérios para ser apóstolo de Cristo, mas me lembrei de que Barnabé é citado como apóstolo em Atos 14:14. Como você explica isso, já que disse que somente Paulo teria sido uma exceção dentro do apostolado e que não existem mais apóstolos hoje? Barnabé não seria a prova de que podemos, sim, ter apóstolos hoje em dia também?
Uma das grandes problemáticas na interpretação bíblica é a dificuldade das pessoas em analisar contextos. Sendo assim, pelo mero mencionar de uma palavra, muitos já tiram conclusões sem analisar sequer o significado daquela palavra e aplicação dela!
Isso é justamente o que acontece com as citações da palavra apóstolo na Bíblia. O termo grego apostolos não tem apenas um significado dentro das Escrituras.
Ele pode, por exemplo, designar em um contexto os apóstolos de Jesus, mas, em outros contextos, designar apenas um mensageiro, alguém enviado a realizar algo com ordens para cumprir determinada tarefa.
É justamente nesse ponto que conseguimos entender o caso de Barnabé ser chamado de apóstolo. Vejamos o texto:
“Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando:” (Atos 14:14).
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O significado do termo “apostolos” no grego
A pergunta chave que deve ser feita é: todas as vezes que a Bíblia usa o termo apostolos em grego é para falar de alguém com aquele ministério especial como dos doze escolhidos por Jesus e depois Matias e Paulo? A resposta é não!
O termo tem um sentido mais amplo, podendo significar tanto o cargo específico dos doze, como também um mensageiro, alguém enviado com uma missão. Para compreendermos isso, precisamos olhar outros textos que usam a mesma palavra, mas em contextos diferentes.
O caso de Tito e de outros irmãos “apostolos”
Vejamos como Paulo escreve aos coríntios: “Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador convosco; quanto a nossos irmãos, são [mensageiros] das igrejas e glória de Cristo” (2 Coríntios 8:23).
Nesse texto, a palavra em português “mensageiros” é apostolos em grego. Aqui, Tito e os outros irmãos são considerados apóstolos, mas não no sentido de ocuparem o cargo apostólico instituído por Cristo.
O sentido é simplesmente de irmãos portadores da mensagem de Cristo, ou seja, enviados para uma tarefa específica, portando a mensagem de Deus!
O exemplo de Epafrodito como “apostolos”
Outro exemplo pode ser visto em Filipenses 2:25: “Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso [mensageiro] e vosso auxiliar nas minhas necessidades” (Filipenses 2:25).
Aqui temos Epafrodito sendo chamado de (apostolos em grego). Pergunto: ele era também um apóstolo de Cristo, comissionário para o apostolado? É evidente que não. Novamente, o uso é para designar alguém enviado em nome da igreja com uma missão específica, um mensageiro.
Barnabé e Paulo: mensageiros enviados pela igreja
Voltando ao texto de Atos 14:14, quando Paulo e Barnabé são chamados de apóstolos, a referência mais natural (nesse texto) é de que eram mensageiros de Deus ali.
Isso fica claro quando observamos Atos 13:3-4: “Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre”.
Paulo e Barnabé foram enviados pela igreja de Antioquia sob direção do Espírito Santo para pregar em diversas regiões. Eles estavam portando a mensagem do evangelho e levando-a adiante. Assim, eram apostolos no sentido de enviados, mensageiros dentro desse contexto. É assim que Lucas narra.
O cargo apostólico e sua exclusividade
Se o texto de Atos 14:14 fosse usado como referência ao apostolado oficial instituído por Cristo, teríamos de concluir também que Tito e Epafrodito (e outros irmãos) foram apóstolos no mesmo nível, o que claramente entraria em conflito com as regras estabelecidas em Atos 1 para a escolha de Matias como substituto de Judas.
Essas regras incluíam ter acompanhado Jesus durante todo o Seu ministério e ser testemunha ocular da ressurreição. Logo, Barnabé, Tito e Epafrodito não poderiam se enquadrar nesse critério.
Ao analisar o texto com cuidado, vemos que Lucas não está colocando Barnabé no rol dos apóstolos de Cristo, mas sim destacando sua função naquele momento: alguém enviado para uma missão evangelística. Em outras palavras, ele foi chamado de apóstolo porque atuava como mensageiro da igreja e do Espírito Santo, mas não como alguém que recebeu o ministério apostólico exclusivo dado por Cristo.
Portanto, Barnabé não é uma prova de que existem apóstolos hoje. O uso da palavra apostolos em Atos 14:14 aponta para o sentido de mensageiro, assim como vimos nos casos de Tito e Epafrodito.
Se confundirmos esses usos, acabaremos forçando a Bíblia a ensinar algo que ela não ensina. O ministério apostólico foi único, estabelecido por Cristo, limitado aos doze e Matias que substituiu Judas, o traidor. Temos ainda a inclusão posterior de Paulo (de forma direta pelo próprio Cristo) como exceção, e não se repete nos dias atuais.
Aliás, o próprio Paulo fala de si mesmo de uma forma interessante: “e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus” (1 Coríntios 15:8-9).
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