Posso declarar com fé coisas que quero que aconteçam e elas vão acontecer?
Você Pergunta: Presbítero, eu vi um vídeo de um pastor que também é coach dizendo que nós, cristãos, temos que ter mais ousadia, que podemos declarar diante de Deus coisas que queremos que aconteçam e que essas coisas vão acontecer se tivermos fé. Você acha esse tipo de pensamento bíblico e correto de ser pregado?
Existe uma grande confusão na mente de muitas pessoas e também interpretativa sobre alguns versos da Bíblia a respeito do poder que palavras ditas têm.
Por um lado extremo temos alguns tipos de pastores que induzem as pessoas a achar que repetir palavras muitas vezes, com ousadia e “com fé” é a chave para se conseguir o que se quer.
Por outro lado, também extremo, temos aqueles que acham que não podemos dizer nada, pedir nada, expressar nada para Deus ou para o próximo, pois tudo já está determinado! O que será que a Bíblia nos afirma sobre isso? Vamos compreender juntos.
O perigo de pensar que palavras controlam Deus
Um dos grandes erros dessa teologia que se popularizou em muitos púlpitos é acreditar que nós podemos forçar Deus a agir por meio de palavras de ordem, declarações ou repetições de frases carregadas de emoção.
A Bíblia é clara: Deus é soberano e não pode ser manipulado pela criação. O apóstolo Paulo afirmou que o Senhor “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11).
Portanto, mesmo que alguém repita mil vezes uma mesma frase, se aquilo não estiver no centro da vontade de Deus, simplesmente não acontecerá.
Jesus nos deu o exemplo da submissão
O próprio Senhor Jesus, sendo o Filho de Deus, mostrou que sua oração nunca foi uma tentativa de manipular o Pai. No Getsêmani, diante do sofrimento da cruz que estava chegando, Ele orou:
“Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:42).
Será que Jesus orou pouco? Será que lhe faltava fé? Evidente que não! Ele nos ensinou que a oração deve sempre estar debaixo da vontade de Deus.
Só Deus tem poder absoluto na palavra
Um ponto importante é compreender que o único que tem poder total, pleno e irrestrito na palavra dita é Deus. Ele falou e o universo foi criado!
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles, pelo sopro da sua boca” (Salmos 33:6).
Nós, criaturas, não temos esse mesmo poder criativo ou de ordenar e as coisas acontecerem. Se tivéssemos, bastaria um cristão entrar em um hospital, declarar a cura de todos e os leitos ficariam vazios, não é mesmo? Mas sabemos que isso não acontece.
Quando alguém declara coisas tentando obrigar Deus a atender, está desperdiçando tempo e caindo em uma espiritualidade ilusória. A Bíblia nunca nos autorizou a ordenar que o Senhor fizesse algo ou ficar sendo repetitivo para forçar Deus a agir em nosso favor.
Pelo contrário, ela nos ensina a buscar, pedir, clamar, mas sempre com coração humilde diante da Sua soberania.
As palavras têm poder, mas não são mágicas
Apesar disso, não podemos cair no outro extremo de achar que palavras não servem para nada. A Bíblia mostra que as palavras têm poder sim, mas em outro sentido:
“Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo” (Provérbios 16:24).
Isso significa que nossas palavras podem edificar, curar feridas emocionais, encorajar e fortalecer. Do mesmo modo, podem ferir, destruir e causar grandes estragos. Portanto, devemos ser responsáveis com aquilo que falamos.
Jesus nos encorajou a falar com Deus, a pedir e buscar: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7:7).
O ensino aqui não é de mágica espiritual, mas de relacionamento. O Pai ouve seus filhos e deseja que apresentemos diante d’Ele nossas necessidades.
O problema está quando pedimos sem discernimento espiritual. Isso já acontecia com muitos pouco tempo depois da morte e ressurreição de Jesus. Tiago advertiu sua comunidade sobre essa questão:
“pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4:3).
A fé verdadeira sempre se curva à vontade de Deus
O texto tantas vezes usado como justificativa para essas “declarações ousadas” é: “E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível” (Mateus 17:20).
Mas note que Jesus não estava dando uma fórmula para conseguirmos o que quisermos. Ele estava ensinando que a fé verdadeira, mesmo pequena, confia totalmente em Deus e em sua vontade. Quando cremos de verdade, entendemos que nada pode limitar o poder do Senhor em agir.
O ensino bíblico é equilibrado:
- Não podemos obrigar Deus a nada com palavras de ordem.
- Podemos, sim, orar, pedir e declarar diante de Deus os desejos do nosso coração.
- Devemos sempre submeter tudo à vontade soberana do Senhor. Essa é a postura madura da fé cristã: confiança em que o Pai sabe o que é melhor e age para nosso bem, mesmo quando não entendemos.
Portanto, não caia no engano de achar que repetir frases ou declarar coisas obrigará Deus a agir. Ele não é servo de nossas palavras; nós é que devemos ser servos da vontade d’Ele.
Ao mesmo tempo, não deixe de falar com o Senhor, de apresentar seus pedidos, de expressar seus sentimentos. Ore com fé, mas sempre disposto a dizer: “Seja feita a tua vontade”. É assim que encontramos descanso na soberania de Deus.
E, claro, não se esqueça que em muitas coisas você tem que fazer a sua parte, senão as coisas não acontecem!
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