A serpente simboliza o diabo ou Jesus, como diz João 3:14?

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Você Pergunta: Presbítero, se a serpente simboliza o maligno na Bíblia, por que Deus usou justamente a figura da serpente para salvar os israelitas que eram picados por serpentes, mandando levantar uma serpente de bronze em uma haste, que ainda aponta para a obra de Cristo na cruz, segundo João 3:14?

O uso de simbolismos na Bíblia é muito amplo e fascinante. Deus, ao longo das Escrituras, comunica verdades profundas por meio de imagens, figuras e símbolos, o que exige do leitor atenção especial ao contexto e ao significado de cada símbolo. Um desses símbolos chama muita atenção: a serpente.

Ao ouvirmos a palavra “serpente” em um contexto bíblico, logo nos vem à mente a cena da tentação de Adão e Eva no Éden. De fato, esse é um dos símbolos mais marcantes associados à serpente na Bíblia. 

Ali, o diabo utilizou esse animal como meio para enganar os primeiros seres humanos, levando-os ao pecado e à queda. Por isso, Deus declara:

“Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida” (Gênesis 3:14).

Por esse motivo, ao longo das Escrituras, a serpente passou a simbolizar o maligno, como lemos no Apocalipse: 

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12:9).

Mas aqui surge uma dúvida legítima: se a serpente está tão fortemente associada ao maligno, por que Deus usou justamente a figura de uma serpente de bronze para curar o povo de Israel no deserto? 

E mais: por que essa serpente foi usada por Jesus como símbolo de sua própria obra salvadora na cruz, como lemos em João 3:14: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (João 3:14)?

Essa aparente contradição tem explicação e a compreensão a respeito do uso de simbolismos nos ajudará a compreender plenamente na sequência.

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A multiplicidade dos simbolismos bíblicos

Na Bíblia, um mesmo símbolo pode ter significados diferentes, dependendo do contexto em que é usado.

Um exemplo claro dessa diversidade simbólica é o fogo. Em diferentes passagens bíblicas, o fogo representa juízo, fervor espiritual, guerra, vingança, purificação e presença divina. 

Logo, entender o contexto é fundamental para interpretar corretamente o simbolismo exato em cada texto. Assim também acontece com a serpente.

Antes de se tornar símbolo do mal, a serpente era apenas mais uma criatura da criação de Deus. Ela foi criada sem maldade, com um papel no equilíbrio da natureza. 

O problema não era o animal em si, mas o uso que o diabo fez dele naquele episódio específico do Éden. Por isso, é importante lembrar: a serpente é um ser sem vontade moral própria, agindo por instinto, e que foi usado pelo maligno como instrumento de engano.

O episódio das serpentes abrasadoras

No deserto, após o povo de Israel murmurar contra Deus e contra Moisés, vieram as consequências: “Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreu muita gente em Israel” (Números 21:6).

Diante do que acontecia com o povo, Deus oferece uma solução inusitada:

“Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá” (Números 21:8).

Moisés obedece, e o povo que olhava com fé para a serpente de bronze era curado. Essa serpente de bronze não era um ídolo. Era um símbolo visível da graça de Deus, que exigia fé.

O olhar para a serpente significava confiança em Deus, arrependimento e esperança de cura. A salvação não vinha do bronze nem da haste, mas de Deus, que prometeu a cura àqueles que cressem.

A conexão com Cristo

Esse episódio foi, na verdade, um tipo (ou sombra profética) do que Cristo faria por toda a humanidade. Ele mesmo declara:

“E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (João 3:14).

Ao dizer isso, Jesus estava revelando que a serpente de bronze apontava para Ele mesmo. A imagem é forte: Jesus seria levantado na cruz assim como a serpente foi levantada na haste. 

E, assim como os israelitas mordidos pelas serpentes eram curados ao olhar com fé para a serpente de bronze, os pecadores hoje recebem salvação ao olhar com fé para Cristo crucificado.

Mas por que comparar Jesus a uma serpente?

A resposta está na profundidade do simbolismo. A serpente representava o mal que havia atingido o povo — ou seja, o resultado do pecado. Ao ser colocada sobre a haste, ela era uma representação do mal vencido, exposto, anulado.

Cristo, ao ser crucificado, também carregou em si os nossos pecados, assumiu nossa culpa, se fez maldição por nós, como diz Paulo:

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gálatas 3:13).

Portanto, assim como a serpente levantada era o símbolo da maldição vencida, Cristo levantado na cruz é o símbolo da vitória sobre o pecado e a morte.

Conclusão

A serpente, símbolo do maligno? Sim. Mas também símbolo de cura e salvação, conforme o caso que ocorreu com os israelitas no deserto.

O que aprendemos é que Deus pode redirecionar um símbolo negativo para demonstrar uma verdade positiva e salvadora, como fez com a serpente de bronze. Os contextos bíblicos são a chave para a correta interpretação.

Portanto, a serpente na haste simbolizava o pecado exposto e vencido, e apontava diretamente para a cruz de Cristo, onde o pecado da humanidade seria lançado sobre o Salvador. Jesus não foi feito serpente, mas se fez pecado por nós — e, assim, nos curou com sua morte.

O olhar dos israelitas para a serpente de bronze era um ato de fé. O nosso olhar para Cristo crucificado também é um ato de fé. E é esse olhar que herda a salvação pela graça vinda de Deus.