4 ventos, 4 anjos, 4 cantos da terra. O que significam em Apocalipse?
Você Pergunta: Presbítero, o que são os quatro ventos da terra e os quatro cantos da terra citados em Apocalipse, que estão ali em Apocalipse 7:1, segurados por quatro anjos? Eu não consegui compreender todos esses símbolos, achei muito complexos. Pode me ajudar a ter um pouco mais de compreensão?
Um cuidado muito importante no estudo do livro de Apocalipse é nunca tentar entender o significado de um verso de forma totalmente isolada.
Isso porque os simbolismos presentes nesse livro têm muitas conexões internas com outras partes do próprio Apocalipse, e também externas, especialmente com os livros proféticos do Antigo Testamento, como Daniel, Ezequiel e outros, por exemplo.
Entender esses contextos nos ajuda a não cometer os famosos “achismos” sobre os textos, o que constitui erros sérios que devemos evitar!
Quando falamos do capítulo 7 de Apocalipse, estamos dentro do contexto da visão do trono de Deus, que começa no capítulo 4.
Dentre várias visões, João vê um livro selado com sete selos na mão de Deus e ninguém é considerado digno de abri-lo, o que o faz chorar muito:
“E eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele” (Apocalipse 5:4).
Mas João é consolado, pois é lembrado que o Cordeiro — Jesus — é digno! O Cordeiro pega o livro e começa a desatar os sete selos, que representam eventos importantes. Após o sexto selo ser aberto, há uma espécie de pausa antes da abertura do sétimo selo. É nesse intervalo que surge a explicação sobre os 144 mil selados de Deus.
É justamente nesse momento que lemos: “Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma” (Apocalipse 7:1). Mas o que tudo isso significa?
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Os quatro cantos da terra: um símbolo de totalidade
Comecemos pelo símbolo dos quatro cantos da terra. Não há aqui qualquer intenção de sugerir que a terra seja quadrada ou plana, como alguns podem pensar.
Essa expressão era usada na antiguidade para se referir aos quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. Ou seja, é uma maneira simbólica de se referir à totalidade da terra habitada, abrangendo todos os lugares e povos.
Essa forma de linguagem é comum na Bíblia, especialmente na literatura apocalíptica, para transmitir a ideia de algo global ou completo. Então, não existe aqui uma intenção científica no texto de falar sobre questões de formação do planeta Terra!
Os quatro anjos: agentes de Deus
Logo em seguida, o texto menciona quatro anjos posicionados nesses quatro cantos. No grego, a palavra usada para anjo é aggelos, que significa mensageiro.
Eles são agentes enviados por Deus para cumprir funções específicas (estão de pé, figura de ação) — e, nesse caso, parecem ser anjos com autoridade especial, responsáveis por reter ou liberar os quatro ventos da terra (é da terra porque tem ação especial aqui na terra).
A sua função ali era segurar os quatro ventos da terra para que “nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma”. Esse controle dos ventos simboliza o controle de eventos poderosos e destrutivos que podem afetar toda a criação: terra, mar e vegetação.
Os quatro ventos: juízos e ações destrutivas
O que significam esses quatro ventos? Em vários contextos bíblicos, ventos representam ações poderosas de Deus, especialmente quando ligadas ao julgamento. Por exemplo, no livro de Jeremias lemos:
“E suscitarei contra Elão os quatro ventos dos quatro cantos do céu e os espalharei para todos esses ventos” (Jeremias 49:36).
A imagem dos ventos sendo retidos por anjos mostra que eles estavam prestes (e prontos) a atuar, mas ainda não era o tempo.
Esses ventos, então, simbolizam ações julgadoras ou destrutivas, possivelmente ligados a desastres naturais ou outras formas de tribulação causadas pela natureza (comandada pela ação de Deus) que afetariam a terra como um todo. Mas por que estavam sendo retidos?
O selo de proteção sobre os servos de Deus
A resposta aparece em seguida: “dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus” (Apocalipse 7:3).
Antes que esses juízos divinos fossem derramados sobre a terra, Deus determinou que seus servos fossem selados — ou seja, marcados com o selo que mostra que são propriedade exclusiva de Deus.
Isso mostra claramente que Deus age com justiça e misericórdia, protegendo os seus antes de executar seus juízos mais severos sobre o mundo.
A expressão “até selarmos” é muito importante, pois mostra que os ventos serão “soltos” somente após esse processo divino ser completado.
No entanto, simplesmente não temos mais a menção desses quatro ventos em Apocalipse, o que deixa o leitor sem mais informações, talvez indicando que Deus não usará esse recurso.
Será que o propósito central desse texto é mostrar que Deus tem domínio pleno sobre todos os eventos e que os detém quando quer e os faz acontecer quando deseja? Ou também os quatro ventos acontecem, mas descritos de outras formas em Apocalipse?
Um trono que governa todas as coisas
Esse texto também nos ensina uma lição preciosa: o Cordeiro está governando. Ele tem o livro da história em suas mãos e é digno de abri-lo e conduzi-lo. O foco não é nos eventos em si, nem nos anjos ou nos ventos. O foco é mostrar que Jesus Cristo governa a história e que Deus cuida dos seus.
A função desses quatro ventos, que aparece apenas nesse trecho de Apocalipse, é apresentar um quadro simbólico do juízo divino contido temporariamente por causa do cuidado de Deus com os seus servos.
Não é nosso papel tentar adivinhar quando ou como esses eventos acontecerão. O texto não oferece essas informações. Ele nos convida a confiar em Deus, que sabe o tempo certo de cada coisa.
Conclusão: Deus governa e protege
Os quatro ventos da terra e os quatro cantos mencionados em Apocalipse 7:1 são imagens poderosas que nos ensinam que Deus tem domínio sobre todos os acontecimentos. Nada acontece fora da sua permissão e do seu tempo. Antes de qualquer ação de juízo, Ele protege e sela seus servos, mostrando que seu amor e cuidado vêm antes da justiça.
Portanto, ao ler esse trecho, o que deve saltar aos nossos olhos não é a curiosidade por datas ou teorias conspiratórias, mas a certeza de que o Senhor está no trono, governa a história e protege cada um dos seus escolhidos com zelo e fidelidade.
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