Apresentar crianças na igreja: É heresia?
Você Pergunta: Presbítero, na minha igreja é comum casais que têm filhos pequenos levarem os filhos e os apresentarem lá na frente, onde o pastor ora pela criança, pelos pais, e existe até um tipo de “cerimônia” em que os pais e a igreja se comprometem a abençoar aquela criança. Eu não encontro na Bíblia respaldo para esse tipo de prática. Será que estou errado?
Muitas igrejas têm o costume de apresentar crianças, ou seja, levar os filhos pequenos à frente da congregação, onde o pastor ora por eles e conclama os pais e a igreja a se comprometerem a zelar pela vida da criança, com o objetivo de criá-la nos caminhos do Senhor.
Essa prática, embora não seja uniforme em todas as denominações, é comum especialmente entre igrejas evangélicas. Nessa cerimônia simbólica, os pais, diante de Deus e da comunidade, expressam seu desejo de que a criança cresça conhecendo o Senhor, sendo instruída e protegida espiritualmente.
Geralmente, quando se pensa em apresentação de crianças, muitos fazem conexão direta com o texto que relata a apresentação de Jesus no templo:
“Passados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor” (Lucas 2:22).
Esse versículo é frequentemente citado para justificar ou embasar a prática. No entanto, é essencial entender o contexto dessa passagem. Jesus foi levado ao templo por seus pais porque isso era uma exigência da Lei de Moisés, conforme descrito em Levítico 12:6-8 e Êxodo 13:2.
Ou seja, a apresentação de Jesus não tem o mesmo objetivo de hoje em dia quando se apresenta uma criança, mas, naquele momento da história, foi um cumprimento obrigatório da lei cerimonial judaica.
Assim, diferentemente do que muitos pensam, essa apresentação não serve como um modelo direto para as apresentações de crianças feitas hoje nas igrejas.
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A Bíblia ordena esse tipo de apresentação infantil?
Uma análise cuidadosa do Novo Testamento revela que não há qualquer ordenança para que pais cristãos levem seus filhos pequenos à frente da igreja para apresentá-los.
Não encontramos qualquer mandamento, prática apostólica ou recomendação de Jesus nesse sentido. O que encontramos, porém, são orientações claras para que os pais sejam responsáveis pela formação espiritual dos seus filhos.
Um dos textos mais claros e objetivos nesse sentido está em Efésios 6:4:
“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4).
Esse é o mandamento essencial: criar os filhos com responsabilidade espiritual, oferecendo correção, instrução e exemplo. Isso deve acontecer no dia a dia, com coerência e compromisso, muito mais do que em uma cerimônia pública.
Diante disso, devemos então considerar a apresentação de crianças na igreja como um erro ou até mesmo um pecado? A resposta é: não. E aqui entra um princípio importante para nossa reflexão.
A Bíblia não fala de tudo – mas nos dá princípios
A Bíblia contém tudo o que precisamos para a vida e para a piedade (2 Pedro 1:3), mas isso não significa que ela detalha cada aspecto prático da vida cristã.
Muitas decisões e atitudes do cotidiano não são mencionadas diretamente nas Escrituras, mas nem por isso são erradas ou antibíblicas.
Por exemplo: a Bíblia não diz nada sobre escovar os dentes. Logo, alguém poderia argumentar que é pecado escovar os dentes? Evidentemente não!
Escovar os dentes está dentro do princípio de cuidar do corpo, que é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19). A Bíblia não precisa dizer tudo em detalhes, mas nos dá princípios para nortear nossas decisões.
Assim também ocorre com a apresentação de crianças. Embora não haja um mandamento para isso, também não há qualquer proibição.
A pergunta que devemos nos fazer é: essa prática fere algum princípio bíblico? E a resposta é: não. Ao contrário, quando feita com os propósitos certos, ela pode ser uma prática muito positiva.
A apresentação como compromisso público
Quando os pais levam uma criança para ser apresentada à igreja com o sincero desejo de consagrá-la a Deus e, publicamente, assumem o compromisso de educá-la no caminho do Senhor, isso não fere a Palavra de Deus. Pelo contrário, está totalmente em sintonia com o ensino bíblico sobre o zelo que devemos ter com nossos filhos.
Nesse sentido, a apresentação de crianças se torna uma espécie de “aliança visível” entre os pais, a igreja e o próprio Deus. Os pais expressam o desejo de formar aquela criança espiritualmente, e a comunidade se compromete a apoiar, interceder e dar exemplo.
É um ato simbólico, mas cheio de significado e valor espiritual — desde que não seja feito como simples tradição vazia ou para tirar fotos apenas, mas como um compromisso autêntico de fé e responsabilidade.
Além disso, não podemos esquecer que as crianças, por serem filhos de pais crentes, já estão sob uma bênção espiritual especial.
Paulo escreve em 1 Coríntios 7:14 que os filhos de pelo menos um cônjuge crente são considerados santos: isso não significa salvação automática, mas mostra que há uma proteção e influência espiritual especial sobre esses pequenos, que devem ser bem conduzidos nesse ambiente.
Conclusão sobre apresentar criança na igreja
Portanto, embora a Bíblia não ordene a apresentação de crianças na igreja, tampouco a proíbe. Quando analisamos essa prática à luz dos princípios bíblicos, especialmente o princípio de consagrar os filhos a Deus e educá-los no temor do Senhor, vemos que ela pode ser uma excelente iniciativa espiritual, se feita com consciência, fé e propósito.
Se esse ato for apenas uma formalidade, sem compromisso, perde seu sentido. Mas se for um gesto de fé, um marco público de compromisso dos pais e da comunidade com aquela vida preciosa, então é algo que glorifica a Deus e abençoa a igreja.
Voltando ao versículo sobre a apresentação de Jesus:
“Passados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor” (Lucas 2:22).
Embora este versículo se refira a uma exigência da Lei e não a uma prática para a Igreja, ele ainda nos inspira a levar nossas crianças aos pés do Senhor, em oração, consagração e compromisso. A apresentação, assim, pode ser um belo símbolo de algo que vai muito além de uma cerimônia: a responsabilidade de criar filhos de acordo com a vontade de Deus.
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