Por que a Bíblia cita unicórnios? Esse animal existiu de verdade?
Você Pergunta: Presbítero, estava estudando o livro de Salmos e, no Salmo 92:10, estranhei quando li ali sendo citado o unicórnio como um animal real. Sempre achei que unicórnio era aquele animal da mitologia, que não existia, que foi criado pelo homem nas histórias. Por que a Bíblia cita o unicórnio, e que animal é esse dentro da fauna do planeta?
Se você usa a versão da Bíblia em português chamada ARC (Almeida Revista e Corrigida), certamente já se deparou com a palavra “unicórnio” em alguns textos. Por exemplo: “Deus os tirou do Egito; as suas forças são como as do unicórnio” (Números 23:22 – ARC).
Outros versículos também trazem esse termo: “Mas tu exaltarás o meu poder, como o do unicórnio: serei ungido com óleo fresco” (Salmos 92:10 – ARC), além de Números 24:8, Jó 39:9 e Jó 39:10.
Diante disso, é natural que muitos leitores, principalmente os mais novos na fé, fiquem confusos: como a Bíblia pode citar o unicórnio, um animal que, ao que tudo indica, nunca existiu de verdade e aparece como um ser mitológico em filmes e desenhos infantis?
Essa é uma dúvida legítima, e ela nasce do desconhecimento sobre como funcionam as traduções da Bíblia e o uso de certas palavras ao longo da história. Vamos entender juntos o que está por trás da palavra “unicórnio” nas Escrituras e por que versões mais recentes da Bíblia já não usam mais esse termo.
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Um pouco da história da tradução bíblica e unicórnios
A tradução da Bíblia conhecida como Almeida Revista e Corrigida foi lançada em 1898, ou seja, há mais de 120 anos. Com o tempo, a língua portuguesa mudou bastante, e muitas palavras que faziam sentido naquele contexto hoje já não são mais usadas da mesma maneira.
É nesse ponto que entra a palavra “unicórnio”. No final do século XIX, o termo não era tão diretamente ligado ao cavalo mitológico com um chifre na testa, como é amplamente divulgado em filmes, desenhos animados e histórias infantis de hoje.
À época, “unicórnio” podia se referir a qualquer animal de um só chifre, ou até mesmo ser usado como símbolo de força e imponência, dependendo do contexto.
Hoje, porém, quando lemos a palavra “unicórnio”, quase que imediatamente imaginamos uma criatura fantasiosa, colorida, de aparência mágica e mitica. Por isso, quando essa palavra aparece em traduções mais antigas da Bíblia, ela pode causar estranhamento.
O que significa a palavra “unicórnio” nos textos hebraicos?
A palavra hebraica original traduzida como “unicórnio” é re’em. De acordo com o léxico hebraico de Strong, re’em é “provavelmente os grandes bisões ou touros selvagens agora extintos. O significado exato não é conhecido”.
Ou seja, os escritores bíblicos estavam falando de um animal real, conhecido na fauna daquela época. Era um animal de grande força e difícil de domesticar, provavelmente semelhante ao auroque (uma espécie de boi selvagem já extinta), comum em regiões do Oriente Médio e Europa na Antiguidade.
Assim, quando os tradutores da ARC usaram a palavra “unicórnio”, estavam tentando encontrar uma palavra que expressasse a força e imponência do animal citado no texto hebraico.
Naquele tempo, essa escolha fazia sentido. Mas, com o tempo, o significado popular da palavra mudou, e passou a mais atrapalhar do que ajudar na compreensão do texto bíblico.
A revisão acertada em versões mais modernas
Foi justamente por isso que versões mais atuais da Bíblia decidiram substituir o termo. Veja, por exemplo, como a versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduziu Salmos 92:10:
“Porém tu exaltas o meu poder como o do boi selvagem; derramas sobre mim o óleo fresco” (Salmos 92:10 – ARA).
Perceba como o termo “boi selvagem” comunica com muito mais clareza (em nossos tempos) a ideia de um animal real, forte, imponente, sem cair no erro de associá-lo a uma figura mítica.
Essa substituição ajuda o leitor contemporâneo a compreender melhor a mensagem que o salmista queria transmitir: a força que Deus concede ao justo é comparável à força bruta e impressionante de um animal selvagem e indomável.
O aprendizado com essa questão
Esse exemplo nos ensina algo importante: ao lermos versões mais antigas da Bíblia, como a ARC (de 1898), precisamos estar atentos à evolução do idioma e à forma como certas palavras eram entendidas no passado.
Quando uma palavra nos causar dúvida, o ideal é consultar dicionários bíblicos, léxicos ou até mesmo outras versões da Bíblia para entender melhor o sentido original do texto.
Além disso, esse caso mostra o cuidado que os tradutores da Bíblia têm em revisar e atualizar os textos conforme o uso contemporâneo da língua.
A Palavra de Deus é imutável, mas as formas de expressão humanas mudam — e, para que a mensagem bíblica continue clara e compreensível para cada nova geração, é necessário adaptar a linguagem, claro, sem comprometer o conteúdo.
Portanto, quando você lê “unicórnio” na Bíblia, principalmente na versão ARC, não pense na criatura mitológica das histórias. Pense em um animal real, selvagem, forte, possivelmente já extinto, que serviu como símbolo de poder na poesia hebraica.
Como vimos, por exemplo, em Números 23:22: “Deus os tirou do Egito; as suas forças são como as do unicórnio” (Números 23:22), a ideia ali é transmitir a grande força de Deus na libertação do povo, não descrever um ser mágico.
Conclusão
A presença da palavra “unicórnio” na Bíblia não é um erro, mas sim uma questão de tradução e contexto histórico-linguístico. Ao entendermos isso, deixamos de lado confusões e nos aproximamos mais da verdadeira mensagem bíblica.
Assim, cada vez que você se deparar com termos antigos ou estranhos na sua leitura, lembre-se: vale a pena investigar, comparar versões e buscar entender o que o autor realmente quis comunicar — e o Espírito Santo certamente ajudará nesse processo.
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