O profeta Ezequiel comeu fezes com pão por ordem de Deus?
Você Pergunta: Vi alguns vídeos no TikTok de pregadores afirmando que o profeta Ezequiel teve de comer fezes por ordem de Deus! Eu li o texto e não entendi dessa forma, mas esses pregadores afirmaram isso! Pode fazer um estudo mostrando o que, de fato, aconteceu ali? Ezequiel teve de comer fezes ou não?
Quando lemos os livros proféticos da Bíblia, é comum encontrarmos passagens difíceis de entender à primeira vista. Uma dessas passagens, registrada em Ezequiel capítulo 4, tem gerado dúvidas e interpretações controversas.
Alguns pregadores nas redes sociais chegaram a afirmar que o profeta Ezequiel comeu fezes de vaca por ordem de Deus. Mas será que isso realmente aconteceu?
Vamos estudar esse trecho com atenção ao seu contexto, à linguagem bíblica e às práticas da época para compreendermos corretamente o que se passou.
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O contexto das encenações de Ezequiel
Antes de julgarmos qualquer ação ou ordem dada a Ezequiel, precisamos entender o momento em que ele estava vivendo e o tipo de ministério profético que Deus lhe entregou.
Ezequiel foi chamado para ser profeta durante o exílio babilônico, quando parte do povo de Israel já havia sido levada para longe da sua terra.
Deus o chamou para realizar profecias não apenas com palavras, mas também com atos simbólicos, ou seja, encenações que ilustravam profeticamente o que viria sobre o povo do reino do Sul (Judá).
Nesse contexto, Deus ordenou que o profeta realizasse diversas ações visíveis diante das pessoas, como forma de alerta e advertência pelos pecados da nação.
Uma dessas ações está registrada em Ezequiel 4 e trata da forma como o povo comeria durante o cativeiro. O texto começa com uma ordem bem específica:
“Toma trigo e cevada, favas e lentilhas, mete-os numa vasilha e faze deles pão; segundo o número dos dias que te deitares sobre o teu lado, trezentos e noventa dias, comerás dele” (Ezequiel 4:9).
O profeta deveria deitar-se sobre um dos lados por 390 dias, simbolizando o tempo do juízo sobre Israel, e nesse período, deveria comer somente o pão feito com esses ingredientes. Deus também especifica a quantidade exata de comida e água:
“A tua comida será por peso, vinte siclos por dia; de tempo em tempo, a comerás. Também beberás a água por medida, a sexta parte de um him; de tempo em tempo, a beberás” (Ezequiel 4:10-11).
Essas porções extremamente reduzidas de alimento e água representavam o sofrimento e a escassez que o povo enfrentaria no exílio babilônico, onde não teriam liberdade nem para seguir as leis alimentares de Deus, pois, evidentemente, viveriam como escravos.
A polêmica das fezes humanas
A parte que causou tanta polêmica e levou alguns a afirmar que Ezequiel teria comido fezes aparece em seguida:
“O que comeres será como bolos de cevada; cozê-lo-ás sobre esterco de homem, à vista do povo” (Ezequiel 4:12).
Aqui, Deus está ordenando que Ezequiel cozinhe o pão sobre fezes humanas, diante de todos. Isso não significa, porém, que Ezequiel comeria as fezes, mas sim que ele usaria fezes humanas como combustível para assar o pão.
O próprio texto bíblico deixa isso claro ao usar o verbo “cozer”, ou seja, preparar ou assar, e não “comer” diretamente as fezes ou assar diretamente o pão nas fezes (misturado a ela).
O objetivo simbólico dessa ação era mostrar que, no cativeiro, o povo de Deus teria que comer alimentos considerados impuros, já que não poderiam manter os rituais de pureza exigidos pela Lei de Moisés:
“Disse o SENHOR: Assim comerão os filhos de Israel o seu pão imundo, entre as nações para onde os lançarei” (Ezequiel 4:13).
Ezequiel, como bom judeu fiel às leis do Senhor, ficou profundamente perturbado com essa ordem. Ele então faz um apelo sincero a Deus:
“Então, disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que a minha alma não foi contaminada, pois, desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca” (Ezequiel 4:14).
Esse clamor mostra o cuidado que Ezequiel tinha com a santidade pessoal e com os mandamentos de Deus. E o Senhor, em sua misericórdia, ouve a súplica do profeta e altera a ordem:
“Então, ele me disse: Dei-te esterco de vacas, em lugar de esterco humano; sobre ele prepararás o teu pão” (Ezequiel 4:15).
Aqui está a resposta definitiva: Ezequiel não comeu fezes humanas. Ele nem sequer cozinhou o pão sobre fezes humanas, pois Deus permitiu que ele usasse esterco de vaca como substituto. Mas ele teria, então, comido fezes (esterco) de vacas?
Fezes de animais como combustível
O uso de fezes de animais como combustível era uma prática comum em regiões desérticas e secas do Oriente Médio, onde lenha era escassa.
As fezes secas serviam como fonte de calor para cozinhar alimentos. Importante destacar que, mesmo quando isso era feito, o alimento não era colocado diretamente sobre as fezes.
Usava-se uma pedra, chapa ou utensílio entre o fogo e o alimento. Portanto, mesmo usando fezes como combustível, o alimento não era “contaminado” por elas.
A encenação de Ezequiel era simbólica e visava mostrar a dura realidade que o povo enfrentaria. Ele comia porções mínimas, com visível sofrimento e usava um método simbólico de cocção (considerado impuro por muitos), tudo para que o povo visse com os próprios olhos o que estava para acontecer com eles, caso não se arrependessem.
Infelizmente, o povo não deu ouvidos ao profeta e acabou mesmo indo para o exílio, enfrentando exatamente a situação que Deus anunciou:
“Filho do homem, eis que eu tirarei o sustento de pão em Jerusalém; comerão o pão por peso e, com ansiedade, beberão a água por medida e com espanto. Porque lhes faltará o pão e a água, espantar-se-ão uns com os outros e se consumirão nas suas iniquidades” (Ezequiel 4:16-17).
Conclusão
Diante dos fatos e da leitura cuidadosa do texto bíblico, podemos afirmar com toda certeza: Ezequiel não comeu fezes humanas e nem fezes de vacas.
Deus ordenou que ele cozinhasse o pão sobre fezes humanas como símbolo da impureza do exílio, mas após o apelo do profeta, o Senhor trocou esse combustível por esterco de vaca.
O objetivo era mostrar ao povo a gravidade do juízo que viria. Essa ação simbólica era um chamado ao arrependimento – chamado esse que, infelizmente, foi ignorado por muitos.
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