Por que Paulo mandou repreender pessoas na frente de todos? Isso não é humilhar a pessoa?
Você pergunta: Eu sempre aprendi que devemos elogiar em público e repreender em particular. Meu pastor me ensinou assim. Mas quando li a carta de Paulo a Timóteo, em 1 Timóteo 5.20, vi que ele mandou Timóteo repreender pessoas que tinham pecado na frente de todos da igreja. Isso não é humilhar a pessoa, ao invés de dar a ela a oportunidade de transformação?
A frase “elogie em público e corrija em particular” é uma orientação amplamente aceita e, de fato, está alinhada à boa educação e à maneira de tratar as pessoas com dignidade.
No entanto, a Bíblia apresenta casos específicos onde a correção pública não só é permitida, mas recomendada (e isso tem objetivos justos). Um desses casos é abordado por Paulo em sua carta a Timóteo:
“Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (1 Timóteo 5:20).
Essa orientação parece ir contra a ideia de proteger a privacidade de quem erra. Então, por que Paulo recomenda a repreensão na frente de todos? Será que isso se aplica a todos os casos? Vamos explorar o contexto e o significado desse versículo para entender o ensinamento por completo.
O contexto de 1 Timóteo 5:19-20
Para compreender 1 Timóteo 5:20, é essencial observar o versículo anterior:
“Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (1 Timóteo 5:19).
Aqui, Paulo está falando sobre presbíteros — líderes espirituais da igreja (pastores), responsáveis pelo cuidado pastoral e pela orientação da congregação. Esses líderes, por sua posição de influência, estão sujeitos a muito mais críticas e acusações.
Por isso, Paulo estabelece um critério rigoroso: nenhuma acusação deveria ser aceita sem o testemunho de duas ou três pessoas, conforme o princípio da lei de Moisés (Deuteronômio 19:15).
No entanto, e quando a acusação era confirmada e o pecado do presbítero era comprovado? O que acontecia nesses casos?
Repreensão pública de líderes
A instrução de Paulo para corrigir publicamente líderes que vivem no pecado pode parecer severa, mas ela tem fundamentos claros e objetivos:
Preservar a integridade da igreja: Presbíteros são líderes espirituais e modelos para a comunidade. Se um líder vive em pecado sem correção, isso pode gerar escândalo e prejudicar o testemunho da igreja. A repreensão pública demonstra que a igreja não tolera pecado, mesmo em posições de autoridade.
Exemplo pedagógico: Paulo destaca o propósito da repreensão: “para que também os demais temam”. A correção pública tem um efeito pedagógico, servindo de alerta tanto para a congregação quanto para outros líderes. Ela reforça a seriedade da santidade e da responsabilidade de quem lidera.
Evitar mal testemunho: Quando um pecado público é ignorado ou tratado de forma privada, isso pode dar a impressão de que a liderança é permissiva ou conivente com o erro. A repreensão pública esclarece que a igreja mantém um padrão elevado de moralidade.
Paulo já havia praticado essa orientação, repreendendo a Pedro
Temos na Bíblia o exemplo do próprio apóstolo Paulo, que repreendeu publicamente Pedro (Cefas) diante de todos:
“Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gálatas 2:14).
Pedro, ao temer a opinião de certos judeus, agiu de forma hipócrita, causando confusão sobre a mensagem do evangelho. Paulo o repreendeu publicamente porque o erro de Pedro tinha um impacto direto sobre a comunidade como um todo.
Assim como em 1 Timóteo 5:20, o objetivo da repreensão pública não era humilhar, mas corrigir e proteger a integridade do evangelho. Como Pedro lidou com isso?
Pessoas sábias lidam corretamente com a repreensão
A Bíblia ensina que a correção, quando feita de forma justa, é um ato de amor e será aceita por quem é repreendido, quando essa pessoa, de fato, tem um coração na presença do Senhor:
“Repreende o sábio, e ele te amará” (Provérbios 9:8).
Isso se aplica tanto a correções privadas quanto públicas. Quando um líder é corrigido publicamente, a intenção não é envergonhá-lo, mas levar à transformação e proteger a comunidade.
Um coração sábio reconhecerá a repreensão como uma oportunidade de crescimento e renovação espiritual.
Veja que, tempos depois, Pedro (repreendido por Paulo publicamente) até elogia Paulo e defende seus escritos:
“e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada” (2 Pedro 3:15).
Quando a correção em particular é mais adequada?
Embora Paulo recomende a correção pública em casos específicos, a regra geral é tratar os erros de forma particular. Isso é confirmado em outros trechos da Bíblia:
Mateus 18:15-17: Jesus ensina que, se um irmão pecar, o primeiro passo é corrigi-lo em particular. Somente se ele não se arrepender a questão deve ser levada a outras pessoas e, finalmente, à igreja.
“Pleiteia a tua causa diretamente com o teu próximo e não descubras o segredo de outrem” (Provérbios 25:9-10). A sabedoria bíblica valoriza o cuidado com a dignidade alheia.
A correção pública, como orientada por Paulo, é uma exceção, aplicada em situações onde o pecado é grave, público e compromete o testemunho da igreja.
Conclusão
A orientação de Paulo em 1 Timóteo 5:20 para repreender publicamente aqueles que vivem no pecado não é uma regra geral, mas uma exceção aplicada a líderes cuja conduta compromete o testemunho da igreja.
O objetivo da repreensão pública é pedagógico: proteger a igreja, corrigir o erro e prevenir que outros sigam o mesmo caminho. Ao mesmo tempo, a regra geral da Bíblia valoriza a correção privada como forma de preservar a dignidade e promover a transformação.
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