Você pergunta: uma citação que Paulo fez em 1 Coríntios 9:9 me chama muito atenção, quando ele diz sobre não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo. Como podemos entender essa orientação. Ela é sobre direitos dos animais ou é aplicada de forma figurada a pessoas? Ajude-me a entender.
Caro leitor, hoje iremos entender a importância de fazermos links (conexões) entre os escritos do Antigo Testamento e do Novo Testamento [2], buscando compreender a profundidade da Palavra do Senhor para nossas vidas e como os autores bíblicos usaram essas conexões para trazer ensinos profundos sobre os mais diversos temas.
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O que significa “não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo”?
(1) Paulo extraiu essa frase da lei dada por Deus em Deuteronômio 25:4: “Não atarás a boca ao boi quando debulha”. Debulhar [4] é o processo de tirar a semente ou grão de uma espiga ou da casca (beneficiamento).
Por exemplo, debulhar o milho é tirar os grãos da espiga. Era muito comum o uso de animais como os bois para fazer esse processo do beneficiamento de trigo, por exemplo.
O animal pisava, e com seu peso, conseguia separar o trigo da sua casca. Depois isso era jogado ao ar. A parte mais pesada (o grão) caia, enquanto as cascas voavam no ar, separando, assim, as duas.
O texto citado acima significa que o animal, quando fazendo esse trabalho de pisar, era amordaçado (tinha a boca amarrada) por muitos para que não abocanhasse para si algum trigo.
Deus considera essa postura incorreta e ordena que não fosse feita. O animal tinha o direito de se alimentar. Amordaçá-lo era crueldade não permitida na lei.
Mas esse verso também ganhou significado proverbial e figurativo, ou seja, virou um ensino interessante não relacionado a animais e que Paulo irá explorar em seus textos!
(2) Paulo usa essa lei em duas citações diferentes. A primeira em sua carta aos coríntios, onde fala de seus direitos como apóstolo, focando no direito que tinha de ser sustentado pela obra [6] que realizava, mas que não usava para não provocar qualquer impedimento ao evangelho (1 Coríntios 9:12). Nesse contexto, ele cita:
“Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?” (1 Coríntios 9:9).
Paulo usa a lei sobre os bois de Deuteronômio como uma figura também aplicável ao trabalhador humano. A ideia aqui é: Se Deus deu uma lei como essa para abençoar bois, quanto mais a Seus servos trabalhadores!
Os que trabalhavam pelo evangelho tinham o direito de tirar seu sustento desse trabalho, assim como o boi que comia um pouco do trigo que debulhava na plantação!
(3) O segundo uso que Paulo faz está na carta a Timóteo. Ali o assunto é o mesmo, o direito daqueles que serviam ao Senhor em tempo integral de receber sustento por esse trabalho:
“Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário” (1 Timóteo 5:18).
É bem possível que Paulo tenha recebido muitas críticas pelo fato de não usar esse direito do sustento como outros usavam. Ele busca mostrar que o direito do sustento não é incorreto, que é amplamente previsto na lei do Senhor, mas que ele optou por não exercê-lo.
Com isso ele mostra que seus amigos de ministério não erravam quando sustentados pelas igrejas e ele também não era menos apóstolo por não aceitar exercer esse direito (naquele momento), embora já tivesse recebido salário em uma fase de seu ministério: “Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir…” (2 Coríntios 11:8).
(4) Concluímos que “não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo” é, então, usado na Bíblia tanto como uma lei de proteção e cuidado de animais que faziam esse trabalho de debulhar sementes como também, de forma figurada, aplicada a servos de Deus que trabalhavam integralmente dedicados ao evangelho.
Assim como os bois, eles tinham o direto de tirar seu sustento do trabalho que realizavam, isso era justo Assim como os bois, eles tinham muito mais o direto de tirar seu sustento do trabalho que realizavam, isso era justo e correto diante de Deus e deveria ser feito nas comunidades cristãs.